Darrera modificació: 2017-08-10 Bases de dades: Sciència.cat
Valente, Maria João - Marques, António, "Alimentação mudéjar em Lisboa: dados preliminares sobre a zooarqueologia do Largo da Severa (Mouraria, Lisboa)", dins: Senna Martinez, João Carlos - Martins, Ana Cristina - Ávila de Melo, Ana - Caessa, Ana - Marques, António - Cameira, Isabel (eds.), «Diz-me o que comes...»: alimentação antes e depois da cidade, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa - Sociedade de Geografia de Lisboa (Fragmentos de Arqueologia de Lisboa, 1), 2017, pp. 76-91.
- Resum
- Apresenta-se o estudo preliminar da coleção faunística proveniente do Largo da Severa, localizado no bairro da Mouraria em Lisboa. Os materiais em foco, provenientes das ocupações dos séculos XII-XIV, foram recolhidos nas campanhas arqueológicas de 2012/2013, no âmbito de uma inter-venção de emergência aquando da restauração e requalificação do edifício da Casa da Severa.O principal objetivo deste trabalho é a caracterização genérica da alimentação de origem animal dos habitantes da comuna moura de Lisboa (i.e. comunidade mudéjar). Os dados obtidos indicam que quem habitou, no séc. XIV, o espaço hoje ocupado pela Casa da Se-vera se alimentava quase exclusivamente de animais domésticos: em maior quantidade de caprinos (mais ovelha do que cabra) e de bovinos; de forma complementar também de porco, de coelho (estatuto de domesticado, cativo ou selvagem por determinar), de galinha, de peixe e de marisco (principalmente berbigão; subsidiariamente amêijoa-boa e ostra). A presença destes animais de origem marinha comprova que tais recursos seriam utilizados com regularidade, estando, contudo, por detalhar a sua importância no cômputo geral da alimentação da comunidade moura da cidade de Lisboa.Foram também identificados alguns animais cuja utilização não terá sido alimentar: ratazana (prováveis intrusões), cão e burro. No que se refere aos invertebrados, foram classificados restos de vieira e do gastrópode Nassarius reticulatus.O cálculo da estimativa de idades aponta para uma maioria de animais abatidos em idade adulta, embora exista alguma variabilidade nas ovelhas e cabras, que registam também a presença de in-divíduos mais jovens (<12 meses). Este facto parece coadunar-se com as fontes medievais islâmicas que apontam para o particular gosto de carne de borrego (e cabrito).Os dados sobre a alimentação das comunidades mudéjar da Península Ibérica são escassos, o que decorre da raridade dos estudos diretamente incidentes sobre estes grupos. Não obstante, com-parando com as informações conhecidas para contextos medievais islâmicos (anteriores à Con-quista Cristã) no Centro e Sul do território português, podemos salientar a ausência de grandes mamíferos selvagens (e.g. veado), o que atesta a urbanidade destas comunidades, e um maior cuidado na observação das regras de alimentação muçulmana, com óbvio repúdio de animais con-siderados “proibidos” como o porco. Tal realidade está provavelmente relacionada com a segre-gação espacial, legal e identitária dos habitantes da comuna moura, situação que implicaria regras comunitárias rigorosas e a existência de instituições e estabelecimentos comerciais próprios, no-meadamente carniçarias, onde a população mudéjar obtinha a sua carne.
- Matèries
- Alimentació
Cuina i confiteria Arqueologia
- URL
- https://www.academia.edu/34113238/Alimenta%C3%A7%C3 ...
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